Grace Hopper: Matemática, programadora e heroína naval
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Grace Brewster Murray Hopper foi uma das figuras mais marcantes da história da computação. Matemática, programadora, oficial da Marinha e visionária, teve um papel determinante no desenvolvimento das primeiras linguagens de programação e na democratização do uso dos computadores.
Início de Vida e Educação
Grace Hopper nasceu a 9 de Dezembro de 1906, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Desde cedo revelou grande curiosidade intelectual, especialmente no campo das ciências e da matemática. Frequentou o Vassar College, onde se licenciou em Matemática e Física em 1928. Seguiu depois para a Yale University, onde obteve um mestrado (1930) e, posteriormente, um doutoramento em Matemática (1934), numa altura em que pouquíssimas mulheres alcançavam este grau académico. Durante os anos 30, lecionou Matemática em Vassar, onde se destacou como professora rigorosa e inovadora.
Serviço Militar e o Harvard Mark I
Com o início da Segunda Guerra Mundial, Hopper decidiu alistar-se na Marinha dos Estados Unidos. Apesar de inicialmente ter sido recusada devido ao seu baixo peso (menos de 45 kg), acabou por ser aceite na WAVES (Women Accepted for Volunteer Emergency Service), uma divisão feminina da reserva naval.
Foi então destacada para o Laboratório de Computação de Harvard, onde trabalhou com Howard Aiken no desenvolvimento e operação do Harvard Mark I, um dos primeiros computadores electromecânicos. Este momento marcou o início da sua longa e extraordinária ligação ao mundo da programação.
Invenções e Contributos para a Programação
Grace Hopper é reconhecida como uma das pioneiras do software. A sua visão ia além da tecnologia da altura: acreditava que os computadores deviam ser acessíveis a pessoas sem formação técnica avançada, o que a levou a procurar formas de simplificar a programação.
O Primeiro Compilador
Em 1952, Hopper desenvolveu o A-0 System, considerado o primeiro compilador da história. Este programa permitia converter instruções escritas em linguagem semelhante ao inglês em código de máquina, revolucionando a forma como os computadores eram utilizados e programados.
COBOL: Uma Linguagem para Todos
Em 1959, foi uma das principais impulsionadoras do desenvolvimento da linguagem COBOL (Common Business-Oriented Language), criada com o objectivo de ser facilmente compreendida e utilizada em contextos empresariais. A influência de Hopper na sua concepção foi determinante para que esta linguagem se tornasse uma das mais utilizadas no mundo, especialmente em sistemas bancários e administrativos – muitos dos quais ainda hoje recorrem a COBOL.
A Origem do “Bug”
Hopper também ajudou a popularizar o termo “debugging”. Durante o trabalho com o computador Mark II, a equipa encontrou uma traça (literalmente, um "bug") presa nos circuitos, causando uma falha. Removeram-na e colaram-na no diário de bordo com a nota "first actual case of bug being found". A história ficou célebre e o termo tornou-se sinónimo de correção de erros em programação.
Reconhecimento e Prémios
O trabalho de Grace Hopper foi amplamente reconhecido ao longo da sua vida e também de forma póstuma. Entre os muitos prémios e distinções, destacam-se:
Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação dos EUA (1991), atribuída pelo Presidente George H. W. Bush.
Presidential Medal of Freedom (póstuma, 2016), a mais alta distinção civil dos EUA, atribuída pelo Presidente Barack Obama.
Promoção a Contra-Almirante da Marinha dos EUA (Rear Admiral).
Eleição para a Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos.
O navio USS Hopper (DDG-70) foi batizado em sua honra.
Diversas universidades nomearam edifícios, prémios e programas com o seu nome.
Últimos Anos e Legado
Grace Hopper reformou-se da Marinha em 1986, aos 79 anos, sendo na altura a oficial em serviço mais idosa da história da Marinha dos EUA. Após a sua reforma, trabalhou como consultora sénior na Digital Equipment Corporation, mantendo-se activa e influente no meio tecnológico.
Faleceu a 1 de Janeiro de 1992, aos 85 anos, e foi sepultada com honras militares no Cemitério Nacional de Arlington.
O seu legado perdura não só pelas contribuições técnicas mas também pela forma como inspirou gerações de mulheres e homens a entrarem no mundo da tecnologia. Grace Hopper provou que a programação podia ser acessível, criativa e transformadora, abrindo caminho para a revolução digital que se seguiria.